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A Ciência está mesmo no fim?

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No início do século XX, era comum imaginar-se que as grandes descobertas já haviam sido feitas, que nada mais tão revolucionário deveria acontecer. Era uma sensação movida pelo deslumbramento dos físicos que fechavam o ciclo com as descobertas do campo eletromagnético e das partículas subatômicas. No entanto, mais tarde, as teorias da relatividade e quântica construíram os grandes ensinamentos sobre o universo através do átomo.
No início deste século, experimenta-se, novamente, a mesma sensação de que os grandes temas ou enigmas científicos já foram explorados e que as bases gerais do conhecimento já são mais ou menos conhecidas, nada mais restando, senão o aprimoramento da Ciência.

Trocando em miúdos, o argumento de quem define o fim da ciência é de que não existirão descobertas do vulto das teorias, como o sistema solar de Copérnico, da evolução de Darwin, da relatividade de Einstein, da mecânica quântica, do big-bang e, ultimamente, do código genético. Há os que alegam que somente a descoberta, em especial, de vida inteligente, fora da Terra, mudaria todos os conceitos. Parece mesmo que se acabaram as grandes surpresas, restando, apenas, o desenvolvimento das teorias, fabricando tecnologia.

Mas os esforços resultarão, todavia, em descobertas parciais, com pequenos progressos incrementais e quantitativos, sem a necessidade de uma revisão de áreas enormes do conhecimento, senão em acréscimos pontuais e restritos a coisas que já sabemos: descobrir-se-ão novas partículas subatômicas, mas não o átomo, porque já foi descoberto; determinar-se-á a função dos genes, mas não o que é um gene, porque já se conhece.

Fica patente que cientistas crentes em certezas “absolutas”, ou no pragmatismo e dogmatismo (religioso, político e filosófico), podem ter retardado o progresso da Ciência, justamente porque ela não é uma ciência exata, nela nada é absoluto, pois a própria verdade é relativa. Com isso, muito daquilo que se aceita na atualidade, como definitivo, será parcialmente ou totalmente substituído por um outro fato, isto é, existirá sempre uma nova descoberta alterando a anterior.

O importante, todavia, de toda essa discussão, é saber, principalmente, que o “saber” não ocupa espaço e que, na verdade, a quantidade de coisas que sabemos é ínfima diante do que ainda nem imaginamos. Iniciamos o século passado com a supremacia da física e da química, e terminamos com os avanços da biologia, através da biotecnologia e da bioengenharia. Isso não quer dizer que os demais segmentos da ciência tenham recuado ou perdidos seus ímpetos. O que acontece é que os avanços que ocorrem hoje, com maior velocidade, são resultantes da melhor reorganização do saber anterior. As revoluções, dentre elas, na informática e nas comunicações, propiciaram avanços tecnológicos fantásticos e mudanças dos investimentos.

Mesmo que a Ciência esteja no seu limite, o importante é que, em relação ao século passado, pequenos saltos que serão dados no desenvolvimento das teorias já fundamentadas, serão de grandes proporções. Citando alguns exemplos, para este milênio, com a revolução na bioengenharia e na tecnologia, muita coisa deixará de ser ficção científica. A conclusão do Atlas genômico irá revolucionar a indústria farmacêutica e proporcionará a cura e a profilaxia de muitas doenças. A produção de tecidos humanos permitirá que, até 2020, cerca de 95% do corpo humano já possa ser substituído por órgãos criados. A clonagem poderá produzir animais com características genéticas não encontradas na natureza. Na Estação Espacial Internacional (EEI), já começaram as pesquisas com microgravidade, trabalhos com novos materiais e medicamentos que só podem ser criados em condições de gravidade zero. E, mais, uma rede de fibras óticas já possibilita a conexão à internet em alta velocidade para ligar os centros de pesquisas do mundo,
impulsionando os intercâmbios culturais.

Tudo que a Ciência prediz deve ser fundamentado pela experiência e comprovação. Se todas as hipóteses levantadas forem comprovadas, o homem logo, logo estará livre da esclerose múltipla, do mal de Alzheimer, do câncer, da fibrose cística e da Aids. Não sofrerá mais infartos e chegará saudável aos 150 anos. Apesar de tudo, muita coisa permanece no campo das hipóteses, da ficção ou da “profetização científica” e ainda tem muita gente, considerada sábia, que acha que somos oriundos da geração espontânea.

JOÃO O. SALVADOR é biólogo do Cena
(Centro de Energia Nuclear na Agricultura) – USP
E-mail: salvador@cena.usp.br

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