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O Tempo

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JOÃO O. SALVADOR

 Ano vai, ano vem e cada início representa recomeçar, refazer, esquecer fracassos, superar momentos amargos, ou acrescentar conquistas. É um período propício para cumprir as promessas assumidas, as de mudanças de atitudes, de costumes ou hábitos poucos saudáveis, como os de fumar, beber e comer excessivamente, que caem em desuso rapidamente. Frustrações à parte, o ano só será novo àqueles que fizerem coisas novas.

 O tempo não pára, não espera, não zera, o universo não é estático. O tempo cronológico, porém, também chamado de tempo objetivo, criado com base nos movimentos da natureza e dividido em horas, dia, mês e ano, ajuda o homem a planejar, organizar, mensurar, avaliar o presente, com o alicerce do passado, para projetar o futuro.

Com isso, temos o tempo certo de plantar, de colher, baseando-se no clima, nas estações distintas do ano; tempo definido para marcar um evento, agendar um encontro, de tirar férias para se dedicar mais tempo à família. Tempo, enfim, de cumprir com as obrigações, das cobranças, de pagar os tributos compostos pela sopa indigesta de letrinhas – IPVA, DPVAT, IOF, IPTU…

O tempo também pode ser subjetivo, o estimativo, o de amadurecimento, de assimilação, aprendizagem, qualificação, tempo de relativizar, de perceber que ele pode ser reduzido ou acrescido, psicologicamente. Nem mesmo quem dá tempo ao tempo para viver intensamente, pode dizer que foi compensador. Tempo é dinheiro, mas também é vendaval. O tempo pode transformar os chamados cultos em hipócritas. A propósito, alguém se arrisca em dizer que, apesar da onipotência divina, o universo foi formado num período de tempo de seis dias? Os neurônios não absorvem as idéias por osmose, ainda bem.

A ciência continua em marcha pelos tempos subjetivos. Ela não guarda sábados, domingos e feriados, nem tampouco obedece aos finais de períodos. Mas necessita do tempo cronológico por questão de projetos de orçamento, de verbas, para que o homem busque, incessantemente, por inovações, na tentativa de alcançar a excelência. A vida é um incessante continuar, a cooperação ajuda muito, mas somente a honestidade, a responsabilidade norteia, comanda, mesmo até sem dinheiro.

Dentro da continuidade de estudos sobre a decodificação genética, as inovações mais inusitadas e ousadas seguirão firmes e fortes, gerando esperanças, conflitos e temores pelo novo. A closagem terapêutica, que antes se previa o estudo de células-tronco com células embrionárias, seguirá por outro caminho, acalmando os ânimos de grupos antiaborto; destoar sobre a transgenia será uma constância, mas tudo ressonância, ela veio pra ficar, não tem choro.

As afirmativas sobre a verdade inconveniente de que a mudança climática é resultante das atividades antrópicas, vão mostrar uma verdade conveniente para governos, empresas da fuligem e, principalmente, para as grandes desmatadoras dos agronegócios, com o aval dos extremistas ecológicos e ecologeiros. O embate vai continuar: de um lado os peritos, inseridos num painel de controle governamental com seus relatórios temporários alarmistas e questionáveis, e, do outro, os moderados, firme na proposição de convencer que a sustentabilidade não combina com o desenvolvimento; que o mundo segue sob os designios universal, também questionável. 

Mas os saltos quânticos e nanotécnicos também vão transformar o mundo nos próximos anos, no sentido de promover o bem-estar, de melhorar a qualidade de vida, pela conectividade, que criará a inteligência artificial, capaz de gerir nossa saúde, nossas atividades à distância, seja na terra, na água e no ar. A cura do velho mal, o hediondo câncer, também está próximo.

A busca por planetas similares a Terra, no grande deserto espacial, também será contínua e, quem sabe, o homem descobrindo que tem companheiro especial, digo  espacial, possa desenvolver-se com base em outras teorias, a de transformar os valores materiais em valores éticos e espirituais.

Na verdade, o homem aprende com erros e não deixará de cometê-los em busca da verdade. Muitas expectativas serão frustradas, mesmo com a boa intenção de resolver ou minorar os problemas da humanidade. Soluções milagrosas não acontecem em tempo curto, mas não é necessário mudar de ano para continuar lutando pela igualdade, pela paz e a fraternidade. Ah perdi um tempo precioso para desejar um feliz 2008 para todos.

JOÃO O. SALVADOR é biólogo do Cena

 (Centro de Energia Nuclear na Agricultura) –

 USP (Universidade de S. Paulo)

JP n. 37.545 – 15/01/2008 – pág. A3

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