Nesta Semana dos Animais há que mencionar o relacionamento quase que simbiótico, ou de cooperação mútua entre o homem e seus animais domésticos, e que vem tornando-os cada vez mais semelhantes. Inteligência e cultura, vistas sempre como privilégio, exclusivamente da espécie humana, têm sido cada vez mais contestadas por um crescente número de biólogos e veterinários, que admitem a existência de traços de personalidade, de comportamento bem parecido em animais geneticamente mais próximos do homem.
O cão convive com o ser humano há mais de dez mil anos e tido como o maior amigo do homem, mas dependente, exige mais atenção, dedicação, carinho e doa-se, perdoa e serve-o por extrema fidelidade e obediência.
A expressão pejorativa “vida de cão” significa um estilo de vida difícil de uma pessoa, mas, enquanto muitos cães têm vida indigna pelos maus-tratos, tidos como brinquedos, objetos descartáveis, indesejáveis quando crescem, envelhecem e adoecem, há outros, felizmente, considerados membros de família. Neste caso, o homem é o melhor amigo do cão.
O gato, porém, não contrasta com o “fiel amigo” por medir sua relação com o dono. É mais esperto, matreiro, mais independente, autêntico, às vezes indiferente, o que lhe confere, erroneamente, a designação de soberbo, arrogante, ingrato e, sobretudo misterioso, fortemente associada às crendices absurdas. Mas mesmo agindo reservadamente, é meigo e carinhoso, amável quando acariciado. Presume-se que por agir de maneira discreta, recatada, as pessoas fascinadas por esse felino têm traços marcantes de personalidade, são mais seguras, de extrema autoconfiança e não se submetem facilmente.
Este mamífero é higiênico, fazendo de sua língua as cerdas de uma escova e limpa com assiduidade sua pelagem, mantendo-a sempre impecável. Obedece às regras da casa, mas dorme aonde gosta. Quando macho, não castrado, tende a ter uma vida mais solitária vagando por amplas extensões territoriais, enquanto que a fêmea exibe uma vida mais social, gregária.
Geralmente os cães abandonados se deprimem e a luta em busca do dono, de água e alimentos, leva-os a exaustão e acabam sucumbindo. Os bichanos, porém, sobrevivem às ásperas situações. Como exímios caçadores, alimentam-se de pequenas presas quando desabitados; são ágeis, curiosos, cuidadosos, de olfatos e audição aguçados, tato sensível, com requintada visão noturna. Preferem as alturas, de onde observam o ambiente com toda segurança e, ao contrário do cão, quase nada pedem a quem não os quer.
Por sua discreta beleza e elegância, os humanos bem-apessoados recebem a sinonímia carinhosa de gato ou gata, que dignifica a espécie de quatro patas. Mas e as cachorras, as preparadas, as popozudas, o cãozinho farejador?
Não importa, enfim, criticar e criar animosidades com os contestadores hipócritas de que os animais têm muito privilégios. Quem gosta de animais jamais negará auxílio a qualquer ser carente, enquanto há os que não cuidam nem de si próprio, de seu espírito.
A terapia com animais já é uma realidade e, com o tempo, o homem passará a ter gratidão por todos eles, pela lição de humildade, de desprendimento, de amor incondicional, os que não colocam o ódio em seus corações.
JOÃO O. SALVADOR é biólogo do Cena-USP
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