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Tudo se transforma

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A sociedade moderna é uma fonte de consumo e de desperdício ao mesmo tempo, cujo indicador da abundância e prosperidade tecnológica, é a montanha de lixo que se acumula nos aterros sanitários. Cada brasileiro produz um quilo de lixo por dia, ou 25 toneladas durante sua vida, em média, de 70 anos. O assunto é preocupante, já que lixo não acaba quando é jogado na lixeira, e, nem tampouco, com a responsabilidade de quem o faz.

Mesmo sabendo que o Brasil fatura, anualmente, 1,2 bilhão de dólares com a reciclagem do lixo, equivalente a 1% do resíduo sólido produzido, a grande verdade é que não o faz pela consciência, a não ser pela fonte de renda capaz de manter a sobrevivência de boa parte da sociedade, justamente na chamada era do conforto.

Os lixões, na verdade, produzem alimentos para ratos, urubus, animais abandonados e para os garimpeiros humanos. No amontoado de descartados, há diferentes formas de resíduos e que o solo também leva tempos diferentes para degradá-las. Alguns detritos levam mais de cinco séculos para se decompor e as pilhas e baterias, contêm elementos químicos que causam efeitos danosos ao organismo quando liberados no choro do lixo (chorume), um liquido mal cheiroso que contamina o lençol freático.

Mas o pior de tudo é que, depois de aterrados, as reações químicas envolvidas na fermentação, irão gerar principalmente gás metano, um dos gases-estufa.

Se cerca de 40% do que se compra é considerado lixo, e fica à espera de um fim ecológico, acho mais que oportuno, continuar conscientizando a população sobre a reutilização de embalagens antes de descartá-las. Há que mobilizar as pessoas para os procedimentos corretos de separação dos resíduos, com a deposição em lixeiras apropriadas.

Vamos raciocinar: um quilograma de vidro quebrado pode se fazer um quilograma de vidro novo; com a reciclagem de 40 kg de papel podem evitar o corte de uma árvore; a energia gasta para a reciclagem do papel é quatro vezes menor do que a gasta na produção primária e para o alumínio essa diferença é de 15 vezes. Se uma simples opção de usar copos, pratos, talheres de papel e madeira, em vez dos utensílios de plásticos, pode tornar a poluição reduzida, por que então não pensar melhor? Se o óleo de frituras, que se joga no ralo, pode ser usado para fazer sabão e movimentar motores, vamos reciclá-los, oras! E mais, parte do lixo, mesmo processada com separação grosseira, forma um rico composto orgânico, fonte de nutrientes essenciais para as plantas.

Apesar de tudo, vejo com otimismo que a contaminação ambiental de áreas urbanas, por deposição inadequada de resíduos sólidos – domésticos, industriais e hospitalares -, já está recebendo a devida atenção dos setores públicos.

Sabe-se que é difícil viver sem produzir lixo, mas o imperativo é não deixar que ele se acumule de forma irresponsável, pois, de acordo com a lei de Antoine Laurent Lavoisier, na natureza nada se cria, nada se perde e tudo se transforma. Vamos transformar idéias, valores, na reutilização dos resíduos que faz parte da preservação do ambiente, antes que ele se transforme num amontoado de lixo, inclusive de carcaças humanas.

JOÃO O. SALVADOR é biólogo da USP.
salvador@cena.usp.br

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